Conscientização Automática - Estamos dormindo?

No dia 24 de Fevereiro de 2005, quinta-feira, o jornal A Folha de São Paulo publicou a notícia de que a ilha indonésia de Simeulue foi atingida por um tremor de 6 graus na escala Richter. Esta ilha fica próxima à Província de Aceh, que está entre as regiões mais atingidas pelo famoso Tsunami. “Apesar do disso, somente sete dos 78 mil habitantes de Simeulue morreram na ocasião”. ( Folha de São Paulo)

A explicação que o governo local aplica a este fato é que “há cem anos, a ilha havia sido afetada por um grande maremoto, e os moradores, conhecendo a história de seus antepassados, correram às zonas mais elevadas da ilha”, segundo publicado na Folha.

Muitos dizem que esta população também estava acostumada a observar os animais, que começaram a ficar mais agitados um pouco antes do tremor acontecer. Agora entram o pensamento:quão atentos estamos, vivendo essa correria, pensando em todos os nossos horários e tarefas para executar, em não chegar atrasado no trabalho, em chegar a tempo para a aula da faculdade, a lista de compras do supermercado, a festa de sábado à noite... ?

Como turista, as pessoas colocam a "máscara" “ conhecer e registrar tudo”, mas será que conheceu mesmo, será que se alguém perguntar você se lembra de cabeça qual o nome da igreja construída por escravos em Tiradentes, ou o nome daquela importante praça de Parati? Estes são alguns exemplos, mas poucas pessoas estão motivadas em conhecer realmente e “internalizar” o que lê, vê, tira fotos. A lógica “robótica” está cada vez mais presente em nossas vidas, o fato de não pensar no procedimento, na “vida vivida”, no quanto aqueles escravos sofreram para construir uma igreja, na calada da noite, para ninguém perceber, ou por quê a praça foi construída, quem estava sendo homenageado com este presente... Estamos como robôs, olhando para o guia turístico, que estudou todo aquele conteúdo para passá-lo para frente e pensando no que vamos comer no almoço, ou que balada vamos curtir quando anoitecer. É um aspecto que nunca prestamos atenção, porém não deixa de ser relevante.

Muitas pessoas buscam em uma viagem conhecer a cultura do local. Alguns a conhecem realmente. Porém, a maioria vê cultura como produto, e não como processo. Sendo mais clara, a cultura é vista como “juntar bens”( igrejas, teatros, museus, fundações), uma visão descartável, consumista, apenas para chegar para os amigos e mostrar as fotos que tirou e onde esteve nas férias ou no feriado. Raramente encontra-se pessoas em busca do “processo”, do povo que originou tudo aquilo, que elaborou dia após dia algo para a eternidade. Se não faz sentido aquilo que você vê ou lê, se não internaliza,tudo isso é uma cultura inerte, que não teve sentido nenhum, totalmente jogada fora. De nada adianta gastar uma fortuna em uma viagem que não se absorveu o conteúdo cultural (se era o seu interesse) ou passar uma hora lendo um texto pensando na morte da bezerra. É tempo jogado fora.

O povo da ilha da Indonésia estava acostumado, desde pequenos, a observar, prestar atenção na paisagem, nos animais, em relembrar dia após dia os conhecimentos passados de geração por geração... Quem sabe todos os nomes de tataratataravós...o máximo que se sabe é o que seus pais e avós te contam, e que muitas você pensa “ Ihhh, lá vem eles com essas histórias denovo...” É com estas “histórias” que construímos a nossa cultura, são estas regras, estes símbolos, todos cheios de significado que passam por gerações através dos anos. Só há cultura quando há socialização. Sempre que você colocar sentido em suas experiências pessoais e passá-las para frente haverá cultura. Não importa se é rico ou pobre, não é apenas para a elite. Todos devem ter acesso a ela e cultivá-la... Por isso é tão importante estar atento a todos os detalhes, estar presente aqui e agora para poder contar e transmitir suas experiências, não deixá-las apenas no álbum de fotos. Vamos ser bons turistas, bons viajantes, bons “desbravadores”, cultos e cheios de boas experiências... Internalizou? Ou já está pensando no feriado em Parati?!